Anatomia da personalidade

A ciência descobre que a herança genética influi mais do que se pensava na formação das características e no comportamento das pessoas HUMOR E ESPIRROS EM COMUM As gêmeas univitelinas Bruna (à dir.) e Renata […]

A ciência descobre que a herança genética influi mais do que se pensava na formação das características e no comportamento das pessoas HUMOR E ESPIRROS EM COMUM As gêmeas univitelinas Bruna (à dir.) e Renata Alves de Souza, de 20 anos, provam que às vezes a genética influi mais do que a criação no comportamento. Desde que nasceram, sua mãe, Etienne, fez questão de criá-las para ser diferentes. “Evitava vesti-las com roupas iguais e cortar seus cabelos da mesma forma. Dava um jeito para que tivessem amigos diferentes”, ela conta. Apesar dos esforços para diferenciá-las, as meninas cresceram e continuaram parecidas em muitos aspectos. Pesquisas com gêmeos univitelinos mostram que eles apresentam várias características em comum. Bruna e Renata têm facilidade para idiomas, o mesmo temperamento e a mesma turma de amigos. “Espirramos igual, comemos da mesma maneira e temos o mesmo senso de humor”, diz Bruna. Na hora de dormir, ficam na mesma posição. “Quando uma está com a perna cruzada, a outra também está”, espanta-se a mãe. O que faz alguém de índole calma ter uma explosão de violência? Como surge a homossexualidade? Por que algumas pessoas se tornam líderes enquanto outras, igualmente inteligentes, têm um destino medíocre? Explicar o comportamento humano em seus diversos aspectos – no círculo de amizades, no trabalho, no amor, na fé religiosa – sempre foi um desafio para psicólogos e cientistas. Até hoje, as pesquisas sobre o tema produziram duas correntes antagônicas, que contrapõem a natureza e o ambiente social. De um lado estão os defensores da tese de que todos nascem iguais e a personalidade é formada pelo aprendizado e pelas experiências pessoais. Do outro lado, acredita-se que os traços da personalidade são definidos pela herança genética, assim como a cor dos olhos. Uma série de descobertas recentes enterra essa discussão. A idéia de que só o ambiente ou só o DNA forma a personalidade foi substituída por outra mais flexível. Todo comportamento tem um componente genético, mas sua manifestação depende de fatores ambientais. Sob essa visão, genética e sociedade interagem para moldar o jeito de ser de cada pessoa. “O gene carrega a arma e o ambiente puxa o gatilho”, disse a VEJA o geneticista Matt Ridley, da Universidade de Oxford e autor do livro O que Nos Faz Humanos: Genes, Natureza e Experiência. A revolução nos conceitos da chamada genética do comportamento, nome dado à ciência que estuda a influência dos genes na personalidade, ocorreu por causa dos avanços na engenharia genética e na biologia molecular. Os cientistas são capazes de fazer uma busca minuciosa em todo o genoma e encontrar regiões com genes capazes de influenciar o comportamento humano. Essas regiões podem ser identificadas em análises de amostras de sangue de irmãos ou familiares com os mesmos traços psicológicos. Já foram encontrados genes e regiões genômicas que tornam as pessoas mais vulneráveis a adotar comportamentos agressivos ou a sofrer transtornos psíquicos. Também já foram detectados genes relacionados à orientação sexual e a vícios como alcoolismo e tabagismo. Os pesquisadores advertem que portar esses genes não significa que a pessoa necessariamente desenvolva o comportamento ligado a ele. Não existe determinismo genético, apenas predisposição. Diz Ridley: “Os genes podem se expressar ou não. Alguns são ligados ou desligados pela própria dinâmica do genoma. Outros, pelas experiências pessoais, familiares e pelo ambiente em que a pessoa vive”. Um estudo do Instituto de Psiquiatria do King’s College de Londres, divulgado no ano passado, encontrou dois genes que atuam na liberação de neurotransmissores no cérebro. Esses genes são responsáveis pela depressão e pelas atitudes anti-sociais, mas só se manifestam em pessoas expostas a situações de grande stress, como perda de emprego ou morte de familiares. Conclusão: ter predisposição genética à depressão não leva ninguém a ficar deprimido. O mesmo acontece com os distúrbios alimentares. Cientistas da Universidade da Carolina do Norte identificaram regiões genéticas similares em amostras de sangue de mais de 400 pacientes com anorexia ou bulimia. “Os mesmos marcadores apareceram em pessoas sem os distúrbios, o que comprova a ação do ambiente”, diz a autora do estudo, a geneticista Cynthia Bulik. Recentemente, pesquisadores do Instituto de Psiquiatria de Londres encontraram regiões do genoma que podem influenciar a inteligência. Um gene chamado LIMK1 produz uma proteína que ajuda a desenvolver a cognição espacial. As pessoas que têm esses genes levemente alterados também são inteligentes, mas não têm habilidades para desenho, por exemplo. Outro gene, o IGF2R, está associado à alta inteligência – sua existência acarreta 4 pontos a mais no QI do portador. A tendência ao suicídio também já foi identificada no genoma. Cientistas da Universidade de Ottawa, no Canadá, descobriram que pacientes portadores de uma mutação no gene responsável por codificar um dos receptores da serotonina, o neurotransmissor que causa sensação de bem-estar, apresentavam duas vezes mais risco de cometer suicídio. A descoberta de genes que influenciam aspectos específicos da vida é o que há de mais novo na genética do comportamento. Grande parte das características humanas, porém, é produto de muitos genes – e não de apenas um, como ocorre com a maioria dos traços físicos e doenças. “Por causa dessa complexidade, o estudo com gêmeos é o que revela com maior precisão a natureza hereditária do perfil social dos indivíduos”, diz o geneticista Renato Zamora Flores, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Além disso, pela observação de gêmeos em suas rotinas por longos períodos, esses estudos conseguem estimar quanto da personalidade de cada um é herança genética e quanto se deve ao ambiente familiar ou às experiências pessoais”, ele completa. Fonte:VejaAbril

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