Depressão é doença e como tal precisa ser tratada adequadamente

A cada dia mais e mais pessoas são diagnosticadas com depressão, ela que tem sido identificada na vida de muitas pessoas agora é tratada como doença.

A sociedade ainda tem preconceito contra as pessoas que possuem depressão. Muitos pensam – Esta pessoa tem tudo, porque ela se sente deprimida? Mas o fato é que a depressão não é privilégio dos pobres, ela pode entrar na vida de qualquer pessoa independente da classe social.

O que é preciso é encarar como doença, procurar tratamento e obter apoio da família e da sociedade que ainda não está preparada para isso.Viver a vida que os outros esperam pode ser um dos gatilhos da depressão em adultos

Imagine a mente de uma pessoa que está iniciando uma carreira promissora, mas que aos poucos vai sentindo-se limitada, como se estivesse presa a alguma coisa que ela não sabe o que é. O pensamento negativo, a baixa autoestima, a falta de prazer, a ansiedade e o afastamento social se tornam constantes na sua vida. Aos poucos ela vai se afundando em uma tristeza sem fim.

Agora, imagine também uma outra pessoa que não tem  a melhor carreira do mundo e está passando por problemas financeiros ou pessoais. Mas ela consegue apesar disso tudo, olhar pra frente e até soltar um sorriso com o sentimento de que as coisas vão melhorar. Consegue enfrentar os problemas e aos poucos superar a tristeza dos momentos difíceis, recuperando a alegria no dia-a-dia.

A pergunta que fica nesta situação é: Por que uma pessoa que aparentemente tem tudo para ser feliz pode desenvolver o quadro de depressão? Ou porque uma pessoa com os mesmos problemas de uma paciente deprimido não desenvolve a doença?

Para tentarmos entender o que enfrenta uma pessoa com depressão, a Equipe de Web Jornalismo do Canal Minas Saúde conversou com o Médico Psiquiatra e Coordenador da Residência em Psiquiatria do Hospital das Clínicas da UFMG, Dr. Rodrigo Nicolato.  Aliado à experiência desse profissional, fomos também atrás dos personagens principais: pessoas diagnosticadas com depressão. Entramos em contato com duas delas – um homem e uma mulher, que preferem não ter seus nomes identificados.

A. U.: Homem,  30 anos, advogado, casado e não tem filhos – Descobriu que tem depressão há um ano.

“Pois é. Tem gente que olha pra mim e pensa: esse cara tá infeliz, porque? Ele tem tudo! Tá formado, já fez especializações, tem emprego e está estabilizado… mas só eu sei o vazio que eu sinto o tempo inteiro, todo dia, toda hora”.

N.F.: Mulher, 25 anos, professora, solteira, não tem filhos. Divide o apartamento com duas amigas em Belo Horizonte. Descobriu que tem depressão há 7 meses.

“Não conseguia me sentir motivada a fazer nada. Até a luz do sol me incomodava e eu tinha preguiça de ter convívio social. Não conseguia ficar um minuto sequer sem chorar”.

 

O estigma da sociedade

De acordo com o Dr. Rodrigo Nicolato, o deprimido é muito mais sensível a críticas e sofre muitas vezes um preconceito da sociedade. “O fardo de um deprimido em frente à vida é muito maior do que aquele que não possui a enfermidade. Toda a rede de complexidade biológica, neuropsicológica e imunológica deixa o paciente muito mais sensível aos acontecimentos do dia-a-dia. Ele se torna mais pessimista no trabalho, os encargos da vida são maiores e as doenças clínicas são mais sentidas. Nos consultórios são comuns as pessoas se queixarem também por conta do estigma criado pela sociedade. As pessoas com depressão são muitas vezes vistas como preguiçosas e frágeis. O deprimido não quer ser deprimido. Frente a um fator estressor, como um trauma, por exemplo, algumas pessoas são mais vulneráveis, talvez por pré-disposição genética. Ou seja, não é deprimido quem quer. O paciente que busca o atendimento da melhor forma e o mais precoce possível apresentam fortes chances de se recuperar.”

Como percebeu que estava com depressão e que não tratava-se apenas  de uma tristeza?

A.U.: Quando este estado permaneceu por mais de quatro meses sem qualquer mudança, mesmo com busca de ajuda especializada e algumas atitudes que amenizam os efeitos da tristeza.

N.F.: Eu estava desanimada com tudo. Meus amigos me chamavam pra sair e eu nunca queria ir, me afastei muito de todos. E fui muito criticada por isso… mas eu não conseguia reagir, chorava todos os dias.

O que você acha que causou o quadro depressivo?

A.U.: Um conjunto de muitos fatores. Uma insatisfação muito grande com o que eu tenho feito da minha vida há muitos anos. O fato de bancar um papel socialmente aceito por muitos anos, sendo que no fundo há muito tempo eu me pergunto se isso é o que me faz feliz ou é o que faz os outros felizes. Também o fato de me responsabilizar demais pela felicidade de outras pessoas, de me achar responsável pelo bem estar alheio. O fato de a minha vida ter tomado um caminho inesperado na hora mais imprópria possível, ou seja, de uma hora pra outra eu perdi o controle dos meus atos e vi que a vida tava me levando pra um caminho diferente daquele que estava todo programadinho na minha cabeça. E mesmo gostando muito daqueles rumos inesperados que a minha vida passou a ter, o peso da culpa por mentir e por não conseguir honrar tudo aquilo que outras pessoas esperavam de mim sempre me machucou demais. E me fez em muitos momentos deixar de lado totalmente o que eu queria em detrimento do que era na minha cabeça o certo a se fazer. É muito difícil ser a vida toda o exemplo de todo mundo na família, ser sempre a referência de todos em tudo, e de repente passar a ser julgado e a conviver com a cobrança de um tanto de gente, que sequer sabe o que se passa na sua cabeça, mas mesmo assim julga e condena sem piedade.

N.F.: Alguns processos na vida pessoal traumáticos, terminei meu namoro e também não fui aprovada no mestrado. Tudo isso me causou grande tristeza e uma cobrança muito grande em mim mesma.

Como é seu tratamento? Você faz acompanhemento com psicólogos e/ou psiquiatras?

A.U.:  Tomo remédios e vou a terapia semanalmente. A  consulta com a psiquiatra é mensal.

N.F.: Mesmo apresentando uma melhora, continuo tomando os medicamentos. Vou uma vez ao mês ao psiquiátrica.

O tratamento, de acordo com o médico psiquiátrica, é realizado por antidepressivos, salve exceções de pacientes com depressão leve.  “Os medicamentos são eficientes em aproximadamente 70% dos casos. Outro aliado também fundamental para a melhora do quadro dos pacientes é a  combinação dos antidepressivos com uma terapia cognitiva e comportamental. Há pacientes que se recuperaram totalmente. O acompanhamento com o psiquiátrica pode ser semanal, mensal ou bimestral. Depende do paciente e da evolução do seu quadro”.

Quais foram as suas maiores perdas com a depressão?

A.U.: A perda no trabalho foi muito grande. Demorei demais a retomar um ritmo normal, e só retomei criando hábitos ruins e mais prejudiciais ainda à saúde, como trabalhando de madrugada. Durante o dia nada rendia de um jeito normal, e isso me obrigava a render de noite para conseguir ficar em dia com as coisas. A vida social passou a inexistir, pois me isolei completamente de todos os amigos e de todas as pessoas mais próximas, inclusive familiares. Passei praticamente todos os fins de semana neste último ano em casa, quieto.

N.F.: Trabalho e vida social principalmente.

O que pode ajudar na melhora do paciente, além do tratamento com um psiquiátrico?

A.U.: Eu PENSO em voltar a fazer atividades físicas como antigamente. Penso também em melhorar minha alimentação, comer em horários certos e com intervalos regulares. Penso também em mudar determinados hábitos e rotinas que repito dia após dia e que não me ajudam em nada (o comodismo me faz repetir algumas coisas muitas vezes no piloto-automático). Também penso em mudar de emprego, na esperança de que uma situação profissional nova, com desafios diferentes, me dê um impulso que me ajude a levantar. E penso também em resolver definitivamente a minha vida pessoal.  Mas até agora nada saiu do PENSO.

N.F.: Praticar exercícios fisícos e trabalhar a minha mente sempre em direção a pensamentos positivos e a pensamentos de força e fé. A fé  foi fundamental para minha recuperação, diria essencial.

Dr. Rodrigo Nicolato explica que os exercícios físicos e a alimentação podem ajudar no bem estar. O difícil é mudar os hábitos dessas pessoas. Falar, por exemplo: “Levanta, sai dessa, há pessoas com problemas maiores”, são expressões muitos comuns de quem está por fora da situação. A família tem que compreender que é difícil a pessoa deprimida reagir aos seus incentivos.  Então é importante que ela seja incluída no acompanhamento, para saber até que ponto pode realmente ajudar.

 

Qual foi a ajuda fundamental que você recebeu para amenizar o quadro de depressão?

A.U.: Até agora minha única ajuda vem de especialistas (terapia/psiquiatra). A vergonha em ficar abordando este assunto com outras pessoas é muito grande, e o medo do que essas pessoas podem pensar de mim me impede de buscar qualquer tipo de outra ajuda que não seja a profissional. E não saí do quadro de depressão ainda. Tenho breves picos de momentos felizes, e na maioria das vezes estou triste e cabisbaixo.

N.F.: Meu tratamento com psiquiatra e psicólogo foi fundamental para a minha recuperação, sem esses profissionais, e sozinha, seria bem mais difícil ou talvez impossível me recuperar do quadro depressivo. Minha família e meus amigos também me deram muita força.

De acordo com o médico psiquiátrica, Dr. Rodrigo Nicolato, a melhor forma de enfrentar o estigma  da doença e ter forças para levar uma vida normal é ir em busca de tratamento: “O sonho de todos os pacientes é que eles estejam bem, sem que as outras pessoas saibam que ele está com depressão”.

Fonte: http://canalminassaude.com.br

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