Que a famosa D.R (Discutir a Relação) é uma prática mais apreciada pelas mulheres não é novidade. Mas será que funciona? Eles prestam atenção? Qual seria a melhor forma de se entender?
Nessa matéria podemos ver a opinião de especialistas sobre o assunto.
A frase “Vamos discutir a relação?” costuma arrepiar os homens! Quando a mulher demonstra a necessidade de diálogo, pode ser sinal que algo na relação não vai bem. E os motivos podem ser variados – amor, sexo, dinheiro, filhos, trabalho, amizades.
Cara fechada, impaciência, desinteresse, defensivismo e até raiva ou agressividade. Sinais físicos e verbais não faltam para indicar o pavor que os homens sentem ao ouvirem um convite para “discutir a relação”. Muitos psicólogos creditam aos problemas de comunicação entre casais a causa da grande maioria dos divórcios. Uma prova disso são os diversos livros que se propõem a tratar desse tema. Felizmente, muitos deles apresentam teses bastante esclarecedoras.
Eles desligam…
Mulher, não discuta a relação; o homem não presta atenção.Sob situações de stress, a atividade cerebral deles sofre redução significativa
A eterna reclamação das mulheres de que os homens se “desligam” sempre que elas resolvem discutir a relação tem fundamento. Uma pesquisa recente mostra que eles realmente deixam de prestar atenção quando percebem no rosto da parceira a expressão de sentimentos como medo ou raiva.
Isso acontece porque, nesse momento, a atividade cerebral dos homens se reduz drasticamente na região responsável por interpretar o sentimento alheio – enquanto nelas, a sensibilidade na mesma área só tende a aumentar. “Quando está sob stress, o homem tende a se ‘retirar’ socialmente”, explica Mara Mather, autora do estudo e professora da University of Southern, da Califórnia (EUA). “O estudo comprova que o stress agudo pode afetar atividades e interações entre as regiões do cérebro de maneira diferente entre homens e mulheres”, completa.
O que dizem os livros…
Um dos maiores best-sellers sobre esse assunto é o livro Homens São de Marte e Mulheres São de Vênus. Nele, o terapeuta John Gray explica logo na introdução da obra o porquê do título. “Homens e mulheres diferem em todas as áreas de suas vidas. Não somente se comunicam diferentemente, mas pensam, sentem, percebem, reagem, respondem, amam, precisam e apreciam de formas distintas. Parecem de planetas diferentes”, afirma.
Homens São de Marte e Mulheres São de Vênus ainda trata de como a motivação é estimulada de maneira diferente em cada sexo. Os homens ficam motivados quando se sentem necessários, enquanto as mulheres ficam motivadas quando se sentem acalentadas. O livro apresenta até um apêndice com frases e expressões comumente mal interpretadas por ambos os sexos.
Outro livro de bastante sucesso é Não Discuta a Relação – Como melhorar seu relacionamento sem ter que falar sobre isso, de Patricia Love e Steven Stosny. Nele, os autores propõem que os homens rejeitam discutir a relação pois são criados para guardar suas emoções. Eles aindam citam pesquisas que mostram que o homem fica abalado quando é alvo de nossas críticas, liberando mais cortisol, hormônio do stress.
Os autores defendem que os homens são programados para buscar satisfazer as necessidades de suas famílias. Discutir a relação, para eles, é sinônimo de que estão falhando. O problema é que as mulheres tendem a comunicar imediatamente suas emoções. Uma pesquisa da Universidade Estadual de Nova York e da Universidade de Stanford mostrou que isso pode ter um fator fisiológico. O cérebro da mulher percebe e se lembra de emoções com mais facilidade, pois tem regiões diversificadas que se relacionam à linguagem verbal.
Os autores de Não Discuta a Relação propõem que, em vez da comunicação, os casais devem buscar a conexão. Segundo eles, o sentido original da palavra “conversar” vem do latim versare (“virar”, “dar voltas”) e cum (“junto”, “com”). Ou seja, conversar é virar junto, como em uma dança. Por isso, a verdadeira comunicação nunca é semântica, não ocorre por sons e palavras. Se comunicação é conexão, ela sempre ocorre por contato.
O que dizem os especialistas…
Para John Gray, um dos maiores problemas em relacionamentos é supor que, se o nosso parceiro nos ama, vai reagir e se comportar de certa maneira que nós reagimos e nos comportamos quando amamos alguém. No entanto, a maneira de pensar e de se comunicar de homens e mulheres é completamente diferente.
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, publicado na edição mais recente da revista especializada Journal of Family Communication, revela que os casais que discutem em casa vivem mais. O problema é que enquanto para eles as discussões parecem intermináveis, para elas nunca são suficientes.
Em situações de estresse, por exemplo, os homens tentam se afastar e pensar silenciosamente sobre o que os está incomodando, preferindo conversar sobre outros assuntos para se distrair. Já as mulheres sentem uma necessidade instintiva de conversar exatamente sobre aquilo que as incomoda. Nessas situações, os homens erroneamente oferecem soluções práticas e objetivas, colocando os sentimentos em segundo plano, enquanto as mulheres oferecem conselhos e orientações não-solicitados.
Estudos anteriores já haviam sugerido que a ínsula – parte do cérebro que pertence ao sistema límbico e coordena as emoções – tem um papel crucial em simular as experiências dos outros. Já o pólo temporal – responsável pela memória, fala e audição -, seria importante para entender as emoções alheias. Ambos fazem parte de um processo – que envolve também a amígdala e a região inferior frontal – conhecido por estimular a empatia e a compreensão social.
O que eles e elas sentem…
As mulheres querem conversar sobre a relação porque estão tristes e querem se sentir melhor. Os homens não querem conversar porque falar não faz com que se sintam melhor. Na verdade, isso os deixa se sentindo pior. Assim, quer ela o obrigue a falar, quer não, os dois acabam se sentindo decepcionados e desconectados. A solidão resultante da falta de conexão entre um casal está no cerne das discussões.
A conexão acontece muito mais por meio do toque, do abraço e do sexo. Aos homens, os autores recomendam que eles devem procurar estar disponíveis, lúcido e pronto para receber todas as energias femininas. A mulher não deve se sentir isolada, pois dessa maneira ela buscará o contato e a segurança a cada instante, testando, exigindo mais, reclamando de cada detalhe. Já para as mulheres, o conselho é tentar ao máximo transmitir aos homens a mensagem de que eles são capazes de fazer uma mulher feliz, de oferecer, de prover. Isso aumentará sua potência, alimentando o ciclo que nutre sua própria felicidade.
Discutir não! Dialogar sim…
Para Regina Vaz, terapeuta de casais e autora do livro Vamos Discutir a Relação? (editora Planeta do Brasil), existem dois motivos básicos que explicam o comportamento das mulheres: “o primeiro é a crença feminina de que falar as angústias e dúvidas para o parceiro, organiza as idéias. O segundo, é que mulheres e homens têm comunicações diferentes, enquanto eles são focados e objetivos, elas fazem mil coisas ao mesmo tempo com competência”, explica.
Na fase do namoro, a pessoa tem oportunidade de conhecer melhor a companhia escolhida e saber um pouco mais dos gostos e como cada um lida com as situações do dia-a-dia. Caso o namoro caminhe bem, o casal parte para o casamento, cuja convivência pode ser total e onde podem aparecer, com mais transparência, pontos divergentes entre o casal. “O importante é ter clareza acerca dos próprios processos emocionais e conduzir uma conversa amorosa que tenha objetivo concreto”, diz Regina Vaz.
Sem dúvida, o tolerar demais e engolir as queixas é tão mortífero quanto discutir a relação sem parar. Existem casais que não discutem mas jogam a sujeira embaixo do tapete como se isso resolvesse, deixando o copo encher e só tentando fazer alguma coisa quando transborda. Daí pode ser tarde demais! “Com certeza as atitudes são fundamentais. Não deixar acumular mágoas, ressentimentos, dúvidas, insatisfações assim como uma boa conversa para esclarecer problemas do dia-a-dia pode ser um grande diferencial de relações duradouras”, explica a terapeuta.
Mas discutir não é duelar, acusar, brigar e sim dialogar, conversar, saber falar e principalmente ouvir. O importante é evitar que as discussões evoluam para brigas. “O casal deve expor seus pontos de vista com abertura para conhecer o pensamento do parceiro e aprender a comunicar-se um com o outro, para que a relação tenha uma vida longa”, finaliza Regina Vaz.
Eles vivem as crises de forma diferente delas. Mas ficar calado e descontar no trabalho não é necessariamente ruim, diz psiquiatra
Ele trocou a cervejinha do final do dia por três cervejinhas. Houve aquele domingo em que explodiu por causa do controle remoto, uma bobagem. Sem contar as horas extras no trabalho. Mas nunca reclamou de nada. Ela bem que tentou conversar. Reclamou com ele, com as amigas, com a sogra, com a manicure. Ela estava só tentando resolver uma crise. Ele também. Sim, características individuais à parte, homens e mulheres lidam com seus problemas de maneiras diferentes. E, sim, como o cotidiano indica, os homens tendem a ser mais fechados e a “descontar” em outras coisas, enquanto elas destrincham a questão para quem quiser ouvir.
Mas – surpresa – isso não quer dizer que as mulheres tenham as soluções para as crises deles. Ou delas. O psiquiatra e psicoterapeuta Luiz Cuschnir é coordenador do Gender Group e supervisor no Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, além de criador e coordenador do IDEN (Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher) e autor de vários livros sobre os homens. Como especialista em comportamento masculino, ele garante: os homens sofrem muito com a vergonha de seus problemas. Mas a mulher que insiste em discutir a relação muitas vezes quer apenas impor seu ponto de vista. E o hábito delas de compartilhar tudo com todo mundo nem sempre ajuda: “Aí também podem ser inadequadas, expondo situações de intimidade para relações que não aceitam ou que não saberão lidar bem com estas informações”, diz. Para ele, falar sobre seus problemas não é necessariamente a saída.
Fonte:IG
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